Confirmada circulação de novo genótipo de vírus da dengue em Belo Horizonte
A dengue é um dos principais problemas da saúde pública mundial. Segundo dados do Ministério da Saúde, a doença é registrada em todo o Brasil, sendo as regiões nordeste e sudeste as mais infectadas. Esse ano, por exemplo, Belo Horizonte registrou 15 mil infecções até o mês de maio, um número bastante elevado. Para se ter um comparativo, em todo o ano de 2009, foram 12 mil casos registrados na capital.
O alto índice de incidência e a forte campanha de prevenção, fez com que grande maioria da população conhecesse a doença. Só que o que pouca gente sabe é que não existe somente um, mas quatro tipos diferentes de vírus dengue. " A doença pode ser causada por um dos quatro sorotipos diferentes, sendo que três deles já foram encontrados em Minas Gerais" , afirma a professora Erna Geessien Kroon, do Laboratório de Vírus do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Erna e outros pesquisadores publicaram recentemente o artigo Dengue vírus 3 genótipo I em mosquitos e ovos Aedes aegypti, Brasil, 2005-2006 (Dengue virus 3 genotype I in Aedes aegypti mosquitoes and eggs, Brazil, 2005-2006) no periódico Emerging Infectious Diseases (EID) , especializado em divulgar informações sobre doenças infecciosas inéditas ou reincidentes.
Nesse trabalho, a equipe de pesquisadores da UFMG identifica a presença do vírus dengue 3 genótipo I em mosquitos e ovos capturados na região de Belo Horizonte. " O que nós percebemos é que os insetos coletados foram infectados com o vírus em um processo natural confirmando a transmissão vertical do vírus, ou seja, da fêmea adulta para seus ovos" , explica Erna Kroon. Segundo a pesquisadora, outra novidade do artigo é que, até então, este vírus ainda não havia sido identificado em mosquitos e larvas, apenas em seres humanos.
A doutoranda em microbiologia Ana Paula Pessoa Vilela, que também esteve envolvida na pesquisa, explica a importância da transmissão vertical, pois o mosquito pode estar carreando um vírus que estará envolvido em uma futura epidemia. " Normalmente, o mosquito contrai o vírus ao picar uma pessoa infectada, e, só após um período de multiplicação que dura em torno de oito dias, é capaz transmiti-lo para outros seres humanos" , afirma Ana Paula, ressaltando que esses resultados são importantes para descobrir a origem do vírus.
Segundo a pesquisadora Leandra Barcelos Figueiredo, que participou da produção do artigo, a origem do dengue vírus 3 genótipo I deve ser diferente do dengue vírus 3 genótipo III, apesar de ambas terem sido identificadas na América Latina na mesma época. " Além disso, depois que o genótipo I desse vírus foi encontrado aqui no Brasil, surgiram registros de sua incidência na Colômbia e na Guiana Francesa, nessa última, em animais de origem silvestre" , conta Leandra Barcelos.
Para Erna Kroon, além de ajudar a traçar a origem do vírus, a pesquisa pode ser importante para identificar qual tipo de genótipo está circulando com maior frequência, o que pode ser essencial no combate à doença. " Se conseguirmos mostrar que determinado genótipo está sendo o maior causador da doença e que ele é encontrado com mais frequência em determinada região, os esforços de prevenção podem ser mais focalizados e apresentarem maior eficácia a um menor custo" , conclui Erna.
O trabalho de coleta dos mosquitos infectados pelo vírus dengue contou com uma nova tecnologia: o MI-Vírus. Desenvolvido pela empresa Ecovec em parceria com o Laboratório de Genética Molecular de Patógenos e Parasitas do ICB, o MI-Vírus permite mapear onde o vírus circula em determinada região. A tecnologia integra o sistema MI-Dengue criado pelo professor Álvaro Eduardo Eiras, do Departamento de Parasitologia, para monitorar os focos de dengue por meio da coleta das fêmeas do mosquito.
O pesquisador, que também assina o artigo publicado na EID, explica que, primeiramente, os mosquitos são capturados utilizando uma armadilha chamada MosquiTrap, que é um recipiente pequeno que prende os mosquitos em fitas adesivas, impedindo-os de circular e depositar ovos. Uma vez capturados, os insetos são enviados para o laboratório, onde é identificada a presença ou não do vírus dengue. Dessa forma, é possível traçar um mapa dos locais onde o vírus pode ser encontrado. " Nos lugares onde o MI-Vírus já foi implantado, os dados mostram que aproximadamente 85% dos casos de dengue foram registrados nas áreas onde há circulação de mosquitos infectados. Isso pode ser um grande auxílio no combate focalizado à doença" , afirma Álvaro Eiras. O pesquisador lembra ainda que essa tecnologia de captura dos mosquitos é importante não só para identificar áreas de incidência do vírus, mas também para fornecer material para pesquisas, como essa que deu origem ao artigo.
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