Uma pesquisa divulgada ontem pelo Ministério da Saúde aponta que os refrigerantes são alimentos cada vez mais comuns na dieta da população jovem. De acordo com os dados, 42,1% dos brasileiros com idades entre 18 e 24 anos consomem refrigerantes cinco vezes ou mais na semana. O estudo, realizado com base em entrevistas telefônicas a 54.367 pessoas, corrobora o que outras pesquisas – como as publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – já vinham apontando: o consumo de bebidas químicas açucaradas ganhou amplo espaço entre os jovens, que estão cada vez mais comprovadamente obesos. Entre os adultos, sem especificar idades, o levantamento do ministério mostra que este tipo de bebida, que inclui sucos artificiais em pó, são consumidos quase todos os dias por 27,9% dos brasileiros. Mesmo assim, de acordo com o ministério, esse índice é superior ao registrado no ano de 2008, quando 24,6% dos entrevistados afirmaram beber esses produtos regularmente. O perfil nutricional da população – que está mudando da desnutrição para o sobrepeso e, por esse motivo, vem sendo amplamente discutido no meio científico - se deve a uma alteração importante no estilo de vida da sociedade moderna. A necessidade de comer muito rápido, associada à variedade e praticidade dos produtos industrializados, faz com que verduras, frutas, sucos e produtos naturais deem lugar à lasanha congelada, água de coco de caixinha e refrigerantes. Além do cotidiano cheio de compromissos, colaboram ainda para os maus hábitos alimentares a facilidade no acesso e o assédio constante das propagandas, segundo aponta a nutricionista Sílvia Papini Berto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu. “Além de ser prático, o refrigerante é um produto relativamente barato. Dependendo da marca, sai até mais em conta que comprar fruta para preparar um suco em casa. E com a facilidade de compra nas escolas e lanchonetes, associado ao impulso da publicidade, acaba sendo a primeira opção de bebida para acompanhar as refeições em qualquer lugar”, explica. Hábito O estudante e apontador de estoque Tiago Alexandre Abreu, 22 anos, é um dos jovens que não passam um dia sequer sem refrigerante. O à base de cola é seu preferido. Em razão da correria do dia-a-dia, sempre faz as refeições fora de casa e, de vez em quando – como ontem à tarde – apela para um lanchinho no fim de tarde acompanhado da bebida. “No serviço, eu e mais uns cinco colegas sempre nos juntamos para comprar uma garrafa de dois litros e meio e não sobra nada. Quando chego em casa, à noite, também costumo tomar. Virou hábito mesmo”, explica. A nutricionista da Unesp alerta, no entanto, que esse tipo de produto industrializado não tem nenhum valor nutricional além do carboidrato na forma de açúcar, excesso de sódio, nenhuma fibra e, pior, ainda podem dificultar a absorção de vitaminas e sais minerais dos alimentos que forem ingeridos juntos com ele. Se consumido regularmente e em quantidades elevadas, assim como ocorre em países como os Estados Unidos, favorece o depósito de gordura no abdômen e, consequentemente, os diversos problemas de saúde associados, como obesidade, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. “Mas, para os jovens, essas doenças estão muito distante de suas realidades imediatas. Por isso é tão difícil convencê-los a trocar o refrigerante por outra bebida mais saudável. As meninas ainda se preocupam um pouco mais pela questão estética, pela possibilidade do surgimento da celulite ou da gordura localizada”, pondera. No Brasil, os dados mais recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE revelaram que o consumo de refrigerantes aumentou em até 400% na população entre os anos de 1975 e 2003. Com isso, segundo Sílvia, as alterações nos níveis de colesterol e triglicérides vem se tornando cada vez mais comuns entre os jovens. Para ela, nem mesmo os lançamentos de produtos de baixa caloria e com adição de vitaminas e sais minerais – que ainda parecem ter baixa aceitação no mercado - será capaz de reverter esse quadro. “São vitaminas e minerais sintetizados em laboratório. Nada substitui o que o alimento natural oferece”, finaliza. Bebida ‘invade’ dieta ainda na infância Um levantamento realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no ano passado apontou que grande parte dos alimentos que os pais oferecem às crianças pode fazer mal à saúde. Ao entrevistar 270 famílias, os pesquisadores descobriram que 67% dos bebês com menos de 2 anos já tinham experimentado refrigerante. Para o Ministério da Saúde, não é recomendado ingerir produtos industrializados antes desta idade. “O que as crianças comem nos primeiros anos de vida interfere muito no paladar que ela terá quando adulta. E o açúcar é algo muito estimulante e prazeroso”, avalia a nutricionista Sílvia Papini Berto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu. Uma sutil demonstração de que o hábito desenvolvido dentro de casa irá influenciar nas decisões alimentares dos filhos, quando eles estiverem aptos a fazer escolhas, é a relação das estudantes Gabriela Torres, 19 anos e Bianca Forte, 18 anos, com o refrigerante. Embora ambas confessem não abrir mão da bebida, Bianca diz que só ingere este tipo de alimento nos finais de semana “porque foi educada assim pela mãe desde pequena”. Já Gabriela, que tomava um guaraná na tarde de ontem no Calçadão da Batista de Carvalho, diz que o refrigerante é sua bebida preferida. “Não tomo todo dia, mas gosto mais do que suco”, pontua. Por esse motivo, Sílvia ressalta que os pais, em nome da saúde dos filhos, precisam ter uma atitude firme quanto ao consumo dos refrigerantes. “É um tipo de bebida que pode ajudar a desenvolver cáries, levar à obesidade infantil e prejudicar a formação da massa óssea das crianças. Corantes e conservantes também podem desencadear processos alérgicos e colaborar para o desenvolvimento de câncer”, sentencia. Brasileiro reduz consumo de carne vermelha em 15% Contrariamente ao aumento no consumo de refrigerantes, a ingestão de carne vermelha e gordurosa caiu 15,8% nos último três anos, de acordo com estudo divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. Aos pesquisadores, apenas 33% dos brasileiros entrevistados responderam ter o hábito de consumir esse tipo de alimento. De acordo com a nutricionista Sílvia Papini Berto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, esta mudança positiva de hábitos – mas ainda longe da ideal - é resultado das políticas de incentivo a alimentação saudável, que conscientizam a população quando ao consumo de vegetais e carnes leves. “A quantidade de pessoas com doenças crônicas devido ao excesso de gordura no sangue aumentou muito nos últimos anos. E a população começou a perceber esses prejuízos e a seguir as orientações médicas”, avalia. Apesar disso, a pesquisa destaca que o dinamismo da vida moderna ainda atrapalha a adoção de uma alimentação equilibrada. Um dos destaques foi o consumo do feijão pelo menos cinco vezes por semana, que caiu de 71,9%, em 2006, para 65,8% em 2009. “É um alimento que demora para ser preparado e as pessoas acham que engorda. Mas é indispensável no prato do brasileiro por ser rico em fibras, vitaminas e minerais”, salienta. Jornal da Cidade de Bauru |
Tisa Moraes |
"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson
quinta-feira, 8 de abril de 2010
SEDENTÁRIO, JOVEM BRASILEIRO ABUSA DE REFRIGERANTES.
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