Projeto internacional sequenciará centenas de genomas de cânceres. Dados ajudarão a compreender melhor a doença e a explicar por que determinado tratamento funciona para uma pessoa e não para outra (Inst.Broad)
Tratamento personalizado para câncer
15/4/2010
Em artigo publicado na edição desta quinta-feira (15/4) da revista Nature, os mais de 200 integrantes descrevem objetivos, metas e conquistas obtidas pelo consórcio lançado há um ano por cientistas de instituições de dez países.
O objetivo principal do ICGC é catalogar 50 dos mais comuns tipos e subtipos de câncer em adultos e crianças. Entretanto, como os participantes destacam no artigo, a dimensão do projeto, somada à necessidade de dados padronizados e de alta qualidade, torna a tarefa um grande desafio.
Os membros do consórcio coordenarão esforços de pesquisa e padronizarão conjuntos de dados e formas de apresentações dessas informações em diferentes estudos. Os participantes destacam a importância de abordar o “balanço delicado entre proteger os dados pessoais dos participantes e compartilhar esses dados de modo que a pesquisa do câncer possa avançar”.
Os 50 tipos de câncer resultarão em cerca de 2,5 mil genomas diferentes – 500 para cada um. As sequências estarão disponíveis livremente na internet.
“Dado o enorme potencial do sequenciamento genômico em revelar informações clinicamente úteis, com custo relativamente baixo, antecipamos que, no futuro não tão distante, genomas parciais ou completos de cânceres serão rotineiramente sequenciados como parte da avaliação clínica dos pacientes”, destacaram os autores.
Ou seja, em alguns anos o paciente poderá ter um tratamento totalmente personalisado, baseado nas informações obtidas do sequenciamento de seu tumor.
A estimativa pode ser até considerada conservadora, dado a velocidade do progresso em estudos genômicos nas duas últimas décadas. O primeiro projeto do genoma humano, que sequenciou meia dúzia de pessoas, custou US$ 1,5 bilhão e levou 15 anos. Hoje, a mesma quantidade de dados pode ser processada em uma semana, por uma fração do valor dispendido originalmente.
“Estamos vivendo uma revolução na maneira com que fazemos pesquisa sobre o câncer. No passado, o desafio era gerar informações. Hoje, os desafios são administrar o volume de dados gerados e encontrar maneiras de interpretá-los, testá-los e aplicá-los de modo adequado”, disse Andrew Biankin, do Instituto Garvan de Pesquisa Médica, na Austrália, um dos pesquisadores do ICGC.
“O consórcio está fornecendo à comunidade científica mundial a melhor ferramenta de pesquisa possível, que permite saber como selecionar o estudo clínico adequado para cada estudo. Sequências genômicas completas permitem que identifiquemos as aberrações moleculares exatas de cada tumor. Entender as aberrações permite que possamos atingi-las com as drogas certas”, disse Biankin.
Segundo o cientista, atualmente, quando se trata um câncer, os médicos prescrevem a seus pacientes os medicamentos que têm mais chances de funcionar. Mas o conhecimento atual é limitado. Uma droga pode não funcionar para uma pessoa, mesmo que atue com sucesso na maioria das outras.
“Se a droga falhar, passamos para o tratamento de segunda linha, terceira e assim por diante. No momento em que chegarmos a um tratamento que realmente funcione, o câncer poderá estar muito avançado. Em caso de câncer pancreático, por exemplo, o paciente provavelmente estará morto”, afirmou Biankin.
“Os bancos de dados do consórcio, baseados na internet, ajudarão a tratar cânceres com tratamentos específicos. Além disso, as informações nos auxiliarão a entender por que alguns tratamentos funcionam e outros não. Também poderemos desenvolver drogas mais eficientes”, disse.
O artigo International network of cancer genome projects (vol. 464 | 15 de abril de 2010 | doi:10.1038/nature08987), do Consórcio Internacional do Genoma do Câncer, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
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