Mortes por câncer estão relacionadas à proximidade de antenas de celulares
Com base no estudo, 80% dos óbitos por neoplasias se concentravam a uma distância de até 500 metros das antenas
A tese de doutorado da engenheira Adilza Condessa Dode, defendida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no final de março, revela que há fortes evidências entre mortes por câncer e localização de antenas de celulares em Belo Horizonte. A pesquisa confirma resultados de estudos realizados na Alemanha e em Israel.
Com base no geoprocessamento da cidade, a pesquisa constatou que mais de 80% das pessoas que morreram de cânceres relacionados à radiação eletromagnética - emitida pelos celulares - moravam a cerca de 500 metros de distância de alguma antena.
Mas, há níveis seguros de radiação para a saúde humana? " Esse é exatamente o problema: até agora, ninguém sabe quais os limites de uso inócuos à saúde" , explica Adilza Dode, ao destacar que os padrões permitidos no Brasil são os mesmos adotados pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiações Não-Ionizantes (Icnirp), normatizados em legislação federal de maio de 2009. Para a pesquisadora, esses padrões são inadequados. " Eles foram redigidos com o olhar da tecnologia, da eficiência e da redução de custos, e não com base em estudos epidemiológicos" , assegura.
Entre os 22.543 casos de morte por câncer ocorridos em Belo Horizonte de 1996 a 2006, Adilza Dode selecionou 4.924, cujos tipos (próstata, mama, pulmão, rins, fígado, por exemplo) são reconhecidos na literatura científica como relacionados à radiação eletromagnética.
Na fase seguinte do estudo, elaborou metodologia inédita, utilizando o geoprocessamento da cidade, para descobrir a que distância das antenas moravam as 4.924 pessoas que morreram no período. " A uma distância de até 500 metros das antenas, encontrei 81,37% dos casos de óbitos por neoplasias" , conta a pesquisadora, professora do Centro Universitário Izabela Hendrix e da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
" Não somos contra a telefonia celular, mas queremos que o Brasil adote o princípio da precaução, até que novas descobertas científicas sejam reconhecidas como critério para estabelecer ou modificar padrões de exposição humana à radiação não ionizante" , diz a pesquisadora.
Recomnedações
Em um capítulo de sua tese, ela lista uma série de recomendações. Entre elas, a de que o Brasil adote os limites já seguidos por países como a Suíça. Sugere, ainda, que o governo não permita transmissão de sinal de tecnologias sem fio para creches, escolas, casas de repouso, residências e hospitais; crie infraestrutura para medir e monitorar os campos eletromagnéticos provenientes das estações de telecomunicação e desestimule ou proíba o uso de celulares por crianças e pré-adolescentes.
Componente da banca que avaliou a tese de Adilza Dode, o professor Francisco de Assis Ferreira Tejo, do Departamento de Engenharia Elétrica a Univrsidade Federal de Campina Grande, afirma que a tese desenvolvida por Adilza Dode "deve ser um marco para que a sociedade brasileira e o Ministério Público comecem a se debruçar sobre a questão dos efeitos biológicos dos campos eletromagnéticos".
A tese "Mortalidade por neoplasias e telefonia celular em Belo Horizonte, Minas Gerais" foi defendida em 26 de março de 2010, junto ao Programa de Doutorado em Saneamento, Meio Ambiente, e Recursos Hídricos (Desa) da Escola e Engenharia da UFMG, e teve como orientadora a professora Mônica Maria Diniz Leão, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, da Escola de Engenharia e co-orientadora a professora Waleska Teixeira Caiaffa, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina.
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