Tratamento com radioterapia pode causar doença vascular duradoura
Inflamação induzida por mudanças na expressão do gene nas artérias do coração pode ser a causa de doenças cardiovasculares
Nova pesquisa do Instituto Karolinska sugere que uma inflamação induzida por mudanças na expressão do gene nas artérias do coração, após tratamento com radioterapia, pode ser a causa do aumento do risco de doenças cardiovasculares em sobreviventes de câncer. O problema está crescendo à medida em que mais e mais pessoas sobrevivem à doença, após receberem a radiação como terapia.
Os estudos epidemiológicos mostraram que a radioterapia aumenta o risco de doenças cardiovasculares na mesma parte do corpo. Por exemplo, o paciente tem mais chance de sofrer infarto do miocárdio após o tratamento de um câncer na mama esquerda; ou pode ocorrer acidente vascular cerebral após o tratamento de tumores na cabeça. Os cientistas sabem muito pouco, entretanto, sobre as causas biológicas destes efeitos secundários graves, que muitas vezes só aparecem muitos anos depois do tratamento.
Ao avaliarem enxertos que foram realizados após o câncer, o pesquisador Martin Halle e seus colegas conseguiram estudar os efeitos, a longo prazo, da radioterapia sobre os vasos sanguíneos humanos. Este tipo de enxerto envolve o transplante de pele, músculo ou tecido ósseo de uma parte do corpo de um paciente, para reconstruir defeitos que surgem após a remoção de um tumor.
Por meio da colheita de ramos das biópsias, previamente irradiados das artérias carótidas e de enxertos não-irradiados da artéria, os pesquisadores foram capazes de comparar a diferença na expressão genética global entre os dois tipos de enxertos do mesmo paciente, simultaneamente.
Eles descobriram que as artérias irradiadas apresentaram sinais de inflamação crônica e um aumento na atividade do Fator Nuclear-kappaB (NF-kappaB), fator de transcrição conhecido por interpretar um papel fundamental no desenvolvimento da aterosclerose. A maior expressão de genes inflamatórios foi visível, durante vários anos após a irradiação, e poderia, segundo os pesquisadores, explicar por que pacientes com câncer podem sofrer de doenças cardiovasculares muitos anos depois da radioterapia.
"Esperamos que estes resultados sejam, um dia, combinados à medicina para ajudar a atenuar os efeitos colaterais da administração da radioterapia em combinação com um tratamento anti-inflamatório", concluiu Halle.
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