"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

MINISTÉRIO FICHA SUJA


O dominó da corrupção derrubou mais um. Pedro Novais tornou-se ontem o quinto ministro a cair antes de completados nove meses do governo Dilma Rousseff, uma marca nunca antes vista na história do país. Nesta verdadeira Esplanada da ficha suja, o que menos conta é o interesse público.

Até agora, quatro ministros do governo petista caíram sob acusação de corrupção: Novais, Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Wagner Rossi (Agricultura). Um saiu por incompatibilidade de gênios - Nelson Jobim (Defesa) - e outros dois intercambiaram de cadeira - Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Luiz Sérgio (Pesca).

Tudo considerado, quase 19% do ministério já mudou antes que a atual gestão completasse seu nono mês de vida. É recorde absoluto no campeonato mundial de má gestão e falcatruas em série com o dinheiro público. Sem falar nas dezenas de alterações nos escalões intermediários. Será que Dilma não fazia ideia de quem ela estava escalando para sua equipe?

A saída de Novais também expõe, mais uma vez, a falácia da "faxina ética" da presidente. Mais uma vez, Dilma Rousseff agiu a reboque da imprensa. Depois de seguidos desgastes envolvendo denúncias de mau uso de dinheiro público, que foram de pagamento de motel a contratação de governanta e motorista, Novais pediu demissão ontem. Não foi demitido.

"A fórmula reproduziu protocolo usado em todas as quatro demissões anteriores, em que partiu do ministro, e não da presidente, o ato final de desembarque. Formalmente, a presidente jamais tirou um ministro de sua equipe", sublinha a Folha de S.Paulo.

A faxina de Dilma é a faxina do paninho e do espanador: só serve para esconder a sujeira. Sua concepção peculiar de economia doméstica dá dimensão do que ela pensa do conceito: "Faxina começa às 6h da manhã e às 8h já acabou", disse a presidente, numa entrevista recente. Só se for na casa dela.

Quem continua a dar as cartas é o fisiologismo, que exibiu-se novamente já na nomeação do novo ministro do Turismo, Gastão Vieira. Deputado pelo PMDB maranhense, ele chega ao cargo com a vistosa credencial de ser "apadrinhado de José Sarney" e nenhuma outra qualidade visível a olho nu.

Antes de chegar ao escolhido, o PMDB chegou a apresentar uma lista de 80 ministeriáveis, formada por todos os seus deputados na Câmara. Escárnio? Entre os candidatos, tinha desde quem tem pencas de investigações nas costas, como Marcelo Castro (PI), a parlamentar acusado de assassinato, como Manoel Júnior (PB).

Eventuais compromissos com projetos de governo ficaram, de novo, em enésimo plano. Cuidar do turismo no país que sediará uma Copa do Mundo daqui a mil dias e uma Olimpíada em menos de cinco anos ninguém parece disposto a cuidar.

A pasta é um apêndice na estrutura do governo, sem função estratégica ou ações de monta. Do orçamento de que o Turismo dispunha neste ano (R$ 3,7 bilhões), sobraram menos de 20%; o restante foi bloqueado pelo Executivo. Em contrapartida, grassam por lá denúncias de corrupção, prisões em série e desvios, que já chegaram a 60% das verbas repassadas pelo governo federal, segundo O Globo.

O Ministério do Turismo é um microcosmo do que acontece na Esplanada de Dilma: as pastas são entregues às legendas aliadas na base da porteira fechada, ou seja, são tratadas como feudos partidários, dissociadas do fim ao qual deveriam se dedicar."Tudo em nome da 'governabilidade' - inclusive o mensalão", comenta O Globo em editorial.

Reinando esta lógica, novas baixas não devem demorar a acontecer. O próximo candidato à guilhotina é Mário Negromonte, que, da cadeira de ministro das Cidades, distribui verbas públicas a granel para a Bahia, sua base eleitoral, e é acusado de pagar mesada em troca de apoio dos parlamentares do PP.

Num governo montado na base do toma-lá-dá-cá, episódios como o de Novais já não espantam; tornaram-se parte da paisagem. O PT ressuscitou a cultura da leniência com o malfeito na administração pública, que tanto tem custado ao país. Não há qualquer indicação de que Dilma pretenda romper com esta nefasta lógica.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela


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