"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"O brasileiro ,quando protegido pelo anonimato, não é solidário nem no câncer!"- Xico Sá

Doença de Lula afeta futuro do governo Dilma

A preocupação central e a torcida maior são pela recuperação de Lula. Tudo mais relacionado à doença é secundário neste momento. Ainda assim, em paralelo ao drama humano, são enormes os desdobramentos políticos do câncer que atinge o mais influente político brasileiro do pós-Vargas. O primeiro e mais previsível efeito é a palpável possibilidade de o ex-presidente se tornar um ícone ainda mais popular que era. Parecia impossível até o último sábado, mas o Brasil provavelmente assiste hoje à ascensão de um mito político sem precedentes. Se faltava algum elemento para a construção dessa narrativa messiânica, a lacuna está preenchida. Sua presença na campanha eleitoral do ano que vem seguramente será menor que o previsto, embora os primeiros diagnósticos indiquem que ele poderá se engajar ativamente. Mas, ainda que ausente, ele deverá se manter como o principal cabo eleitoral do PT, conforme os planos que o partido já havia traçado. Não viajará tanto, mas a força de sua marca ficará ainda mais intensa. Mas esse não é o principal desdobramento. O principal impacto, e o mais incerto, é para o futuro do governo de Dilma Rousseff.

“RESERVA” DE DILMA VIRA INCÓGNITA
Até então, a presença de Lula teve dois efeitos determinantes para a postura do meio político em relação à atual presidente. Ele estava ali como plano B para o caso de Dilma não dar certo. Situação extremamente confortável para o PT e incômoda para a oposição. Perante os adversários, ele funcionou como anteparo. PSDB e DEM jamais foram para o enfrentamento mais direto com Dilma. Sabiam que não interessava desgastar demais a presidente, sob risco de o superpopular antecessor voltar. Melhor era dosar as críticas e não fragilizá-la a ponto de não vir a ser ela a candidata em 2014. Além disso, todas as críticas eram direcionadas à herança que Lula deixou, ao legado “maldito”. Mais que ela, o alvo vinha sendo ele.
Por outro lado, os aliados morrem de saudade do ex-presidente. Incomodados com o estilo linha dura e tolerância zero de Dilma, os partidos da base de sustentação não escondem o desejo de ver Lula de volta ao Planalto. Assim, criou-se a curiosa situação na qual o desgaste da atual presidente passou a interessar mais aos parceiros que aos opositores. Até pelo fato de a administração estar ainda no início, nenhum aliado agiu explicitamente. Mas, à medida que 2014 se aproximasse, seria natural a ofensiva contra a reeleição e pelo retorno do ex-presidente. Todo esse cenário é hoje incerto.
A chance de Lula permanecer como plano B para 2014 fica muito mais remota. Os aliados provavelmente ficam sem o “reserva de luxo”. A oposição não precisa mais ter tanto receio de criticar Dilma. Por outro lado, terão de rever a estratégia adotada até agora de jogar em Lula a culpa por todos os males da atual administração. Não fica mais bem atacar alguém em tratamento contra o câncer.
À PROCURA DE UM REFÚGIO PARA A SOLIDARIEDADE
Mas, de volta ao aspecto humano da doença de Lula, razão total tem o jornalista Xico Sá. Lembrou a frase que Nelson Rodrigues atribuía a Otto Lara Resende: “O mineiro só é solidário no câncer”. E, ao constatar o festival de barbaridades que tomou conta dos sites, blogs, redes sociais e caixas de e-mail na repercussão da notícia, vaticinou: “O brasileiro, quando protegido pelo anonimato, não é solidário nem no câncer”. As ferramentas tecnológicas não tornaram o cidadão médio mais grosseiro, mal-educado, ranzinza, raivoso, insensível, incapaz de respeitar diferenças de pensamento e, eventualmente, cretino e mau-caráter. Apenas facilitaram a proliferação de características antes só conhecidas pelos íntimos. Agora, eles não apenas encontraram canais ideais para se expressar. Perceberam que não estão sozinhos. Deram-se conta do quão numerosos são. A Web conectou toda sorte de intratáveis, que se deram conta do poder da intolerância e do desrespeito quando unidos. Quem escreve sobre assuntos passionais como política ou esporte na Internet há muito havia se dado conta disso. Com a doença de Lula, bem salientou Xico Sá, cai o que já foi tido como último reduto da solidariedade. Vítima da cômoda covardia do anonimato virtual.

FONTE: O POVO ON LINE

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