A faxineira ética foi uma ilusão que durou pouco. Seu ex-companheiro de luta contra a ditadura de 64, único ministro que pode dizer "Dilma me ama", Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, meteu-se com consultorias nada ortodoxas. E como agiu Dilma? Mandou investigá-lo? Não. Mandou-o se explicar no Congresso? Também não. Ordenou: "Resista". Isso é lá comportamento de uma presidente que proclamou sua aversão a desvios de condutas antes mesmo de subir a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez? Está no seu discurso de posse: Não haverá compromisso com o malfeito, a corrupção será combatida permanentemente .
Diante de indícios de que um auxiliar seu prevaricara, Itamar Franco, ex-presidente da República, primeiro o afastava do cargo. Segundo, mandava investigar os indícios. Caso eles ruíssem, chamava o auxiliar de volta. Dilma? Ela bem que se esforçou por manter no governo os ministros que pediram para sair, abatidos por denúncias de corrupção.
Na última sexta-feira, ao desembarcar em Buenos Aires para a posse da presidente Cristina Kirchner, Pimentel limitou-se a declarar aos jornalistas: Já falei tudo o que tinha de falar. Todas as explicações foram dadas. Estou tranquilíssimo . Não. Não falou tudo o que tinha de falar. Nem deu todas as explicações devidas.
Gilberto Carvalho, secretário- geral da Presidência da República, socorreu Pimentel. O governo está satisfeito com as explicações oferecidas pelo ministro até agora , ditou. Esclarecer o Congresso? Não vejo razão porque as denúncias são relativas a Belo Horizonte. Como é que é? Tem nova jurisprudência na praça?
A intervenção de Gilberto soaria como piada se não tivesse sido feita a sério. Pimentel ganhou R$ 2 milhões em 2009 e 2010, dando consultorias em Minas Gerais e em Pernambuco. Quer dizer que os fóruns competentes para ouvi-lo seriam as Assembleias Legislativas dos dois estados? Por que não Câmaras Municipais? Menos, Gilbertinho!
Se convocado, irei ao Congresso , admitiu Pimentel. Que graça! Arrisca-se a ser preso quem ignora uma convocação do Congresso. Pimentel joga com as palavras para confundir o distinto e distraído público. O governo joga com a sua força para evitar que o Congresso convoque Pimentel. Receia que ele se enrasque mais um pouco.
São tantas as perguntas a exigirem de Pimentel respostas convincentes... Por que, de início, ele revelou que tivera apenas três clientes? Depois citou um quarto. Que disse não ganhar o bastante para pagar consultoria. Mas que em seguida recuou e deu razão a Pimentel. Por que com três dos quatro clientes ele não assinou contratos?
Foram contratos de boca. Sabe como é... Por escrito, só o contrato de R$ 1 milhão com a Federação das Indústrias de Minas. Pimentel esqueceu quantas vezes esteve com o cliente. Ganha um bolo de rolo quem tiver visto Pimentel dando consultoria em Pernambuco. As quatro consultorias não produziram sequer um esquálido documento.
Robson Andrade, ex-presidente da federação mineira, assim justifica a contratação de Pimentel: Quanto vale um dia de conversa com uma pessoa que tem conhecimento estratégico sobre como trabalhar com o governo, discutir questões tributárias, ações de crescimento nas indústrias? Convenhamos: faz sentido.
Na época, ex-prefeito de Belo Horizonte, Pimentel ambicionava o governo de Minas. O PT apoiou Hélio Costa, do PMDB. Pimentel foi então candidato ao Senado. Perdeu para Itamar. Estava destinado a ser ministro de Dilma. Foi um dos coordenadores de sua campanha. Quem não pagaria para tê-lo como conselheiro? Não pagaram a Palocci?
Lula foi tolerante com autores de malfeitos. Dilma também, mas fracassou até aqui. Nenhum dos ministros que abandonou o governo tinha com ela a íntima ligação que Pimentel tem. É razoável que Pimentel acabe ficando. Mas tudo na política cobra o seu preço. E algum será pago por ele, por Dilma ou pelos dois.
FONTE: BLOG DO RICARDO NOBLAT
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