O envelhecimento cerebral não é inevitável. A Semana do cérebro (de 15 de março a 21) será uma oportunidade para fazer-se um balanço das investigações em curso. E estão ocorrendo grandes avanços. A ciência descobre a incrível capacidade do cérebro para produzir novos neurônios e abrir possibilidades que permitem o seu reparo, estimulação e manutenção.
Por que o canário canta diferente de um ano para outro? Graças a estas questões ,aparentemente simples,o conhecimento do cérebro vem avançando. Estávamos nos anos 80. Ao estudar o cérebro de Serinus canaria, os pesquisadores observaram que os neurônios, no centro vocal superior, que controla o canto, desapareceram no Outono e foram substituídos por uma nova geração de neurônios na primavera seguinte.Inicialmente, esta descoberta não teve repercussão até que ,quinze anos mais tarde, outros cientistas, trabalhando com roedores, observaram que a massa cinzenta dos ratos ganhava peso após treinamento e aquisição de habilidades, num labirinto.Enquanto eles estavam ensinando para as gerações que, ao contrário de outras células do corpo, os neurônios são inicialmente atribuídos a cada indivíduo e são incapazes de se renovar, encontrou-se no cérebro do animal, a formação de novas células nervosas. Em 1996, foi a vez dos primatas.Na Universidade de Princeton, Elizabeth Gould e sua equipe, relataram ter observado a presença da neurogênese (formação de novos neurônios) em duas regiões do cérebro - o hipocampo e o bulbo olfativo - de um macaco adulto.Fred Gage, neurobiólogo americano da Universidade da Califórnia, San Diego,deu um grande passo : êle mostrou que novos neurônios são produzidos naturalmente a partir de células-tronco no giro denteado de cérebros humanos adultos. E, contra todas as probabilidades, o fenômeno ocorre em todas as idades da vida.
A descoberta, de importância capital, é inimaginável. Se o cérebro produz naturalmente as células nervosas, então ele é capaz de regenerar-se. O dogma do declínio inexorável da população neuronal, sucumbe . Esta doutrina foi particularmente inquietante porque o ser humano perde diariamente centenas de neurônios. Nesta perspectiva, o envelhecimento aparece como uma fatalidade, causando quase mecanicamente, com a idade, incapacidade de concentração, atenção, perda de memória e doenças neurodegenerativas.
O cérebro é um vasto território de interrogações. A substância cinzenta, emaranhado de bilhões de conexões - na forma de sinais elétricos ou químicos - entre centenas de milhões de neurônios em constante movimento, está longe de ter revelado todos os seus segredos.Nós sabemos mais sobre os planetas do nosso sistema solar, dizem os especialistas, que desta extraordinária mecânica que nos permite ver, ouvir, falar, pensar, lembrar, imaginar ou amar.
"No estado actual do conhecimento", diz o professor Yves Agid, neurologista da Pitié-Salpêtrière e diretor científico do Instituto do cérebro e da medula espinhal, não há provas de que as células nervosas morrem ao longo do tempo. Elas permanecem intactas, mas gradualmente desabilitam-se e perdem algumas de suas conexões. Isto tem o efeito de limitar o fluxo de informações e enfraquecer as suas funções. "No entanto, verificou-se que os neurônios durante o envelhecimento, sabem como se defender. Eles sobrevivem em uma luta constante entre a fraqueza e a vitalidade.
Dotados de uma certa plasticidade e longe de serem passivos, eles se encaixam, aumentando ou reduzindo as suas operações, por solicitações.Além disso, quanto mais densas as solicitações, maior a neurogênese no cérebro. Por outro lado, um ambiente pobre de estímulos e contato social diminue a neurogênese. "Assim, demonstrou-se que os roedores isolados em gaiolas individuais produziam menos neurônios do que os animais que interagiam socialmente", disse Pierre-Marie Lledo, chefe da unidade de percepção e memória do Instituto Pasteur no CNRS . Do mesmo modo, o exercício aumenta a regeneração, o corpo secreta insulina, que, através de um efeito dominó, induz a formação de novos neurônios, enquanto que uma vida sedentária dificulta a produção deles. "
O cérebro é dotado de substâncias orgânicas naturais, chamados fatores tróficos ou fatores de crescimento envolvidos no desenvolvimento de células nervosas. Elas são essenciais porque permitem que as crianças como os adultos possam aprender ao longo das suas vidas. Um das apostas da investigação biomédica é desenvolver moléculas que promovam a produção de neurônios e facilitem o desenvolvimento de conexões. "Esses neurônios novos podem ajudar a adaptar-se num mundo em mudança", diz Pierre-Marie Lledo.Quando esta fonte da juventude começa a secar, o indivíduo perde o seu suporte. Se formos capazes de estimular a neurogênese, podemos melhorar o cérebro de um indivíduo, em especial para garantir um melhor desempenho e melhor memória.
Estes achados são os primeiros passos em direção a um campo de aplicações médicas para regenerar e reparar tecidos danificados ou para substituir as células nervosas deficientes. Como? Fazendo uso de novas estratégias terapêuticas, tais como a terapia celular ou terapia gênica (ver nossos gráficos), ou através de sistemas de estimulação elétrica para ativar a produção de novos neurônios. Eventualmente, os investigadores acalentam a esperança de tratar as conseqüências e os efeitos da lesão cerebral, acidente vascular cerebral ou doenças neurodegenerativas, como Parkinson ou Alzheimer ...
Especialmente esses novos neurônios têm a capacidade de mover-se no cérebro, alcançando o seu objectivo e integrar as redes que os acolhem."Nós descobrimos uma molécula,a tenascina, que funciona como um atrator poderoso, explica Pierre-Marie Lledo. Nós introduzimos em uma região do cérebro, o striatum, e para nossa surpresa, descobrimos que novos neurônios foram colonizar e integrar esta área. "
Adaptado e traduzido,com exceção de alguns poucos parágrafos, de matéria publicada no Le Figaro.fr em 26/02/2010(Science et Technologie- Cerveau:la bataille de la jeunesse)
Autora Martine Betti-Cusso
Clique no infográfico para ampliá-lo.
Palvras chave: neurogênese, cérebro, sinapses.
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