"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

TRAIÇÃO E TRAIDORES

Taking of Christ( A Tomada de Cristo )-Obra do pintor barroco Caravaggio que retrata o famoso beijo de Judas em N.S.Jesus Cristo,indicando-o aos soldados romanos como o Rei dos Judeus e líder anti-Roma.

"Traição, como uma forma de decepção ou repúdio da prévia suposição, é o rompimento ou violação da presunção do contrato social (verdade ou da confiança) que produz conflitos morais e psicológicos entre os relacionamentos individuais, entre organizações ou entre indivíduos e organizações. Geralmente a traição é o ato de suportar o grupo rival, ou, é uma ruptura completa da decisão anteriormente tomada ou das normas presumidas pelas outros."Wykipédia.


A TRAIÇÃO está na ordem do dia no mundo político feirense envolvendo quebra de acordo entre vereadores, deputados e o executivo . Revelando indignação, um jovem deputado recém eleito, líder de um pequeno grupo de vereadores fiéis e afinados em torno dos seus interesses políticos,dispara duras acusações contra vereadores de um grupo rival com os quais após dezenas de reuniões ,contava para derrotar o sub-grupo do atual e do ex-prefeito. Vereador, deputado estadual e ,agora, deputado federal, carreira meteórica escudada em significativos 80.000 votos dos quais cerca de 50% obtidos em Feira de Santana sem o aval direto das velhas lideranças locais, o jovem deputado parece esquecer que a traição é prática habitual no jogo político. Reprovável é verdade, mas muito frequente ,considerando que não é possível encontrar santos neste campo das multiplas atividades humanas.Deus criou o homem para ser um animal perfeito e a êle semelhante, entretanto, inventou também as mutações genéticas e , de quebra, legou-nos as mutações morais, como corolário do livre arbítrio. Pratica-se o bem por livre escolha, contudo, nada nos impede de comportar-nos de forma aética e imoral. Existem os limites legais, as regras do direito normativo,os códigos que ,desde Hamurábi, tentam estabelecer regras sólidas de conduta, contudo o ser humano é livre para escolher e para agir.
Quem dá o pão , dá o castigo! Contudo a arte política impõe a dosagem adequada para o castigo, considerando-se lição fundamental do mestre feirense José Falcão que ensinava que em "política não existem inimigos, só, e somente só,adversários". É preciso paciência, porque o adversário de hoje poderá ser o correligionário de amanhã. Assim,lembrando que o promissor deputado, que esbanja energia e capacidade de luta, deve continuar o seu trabalho de formatação de uma terceira opção para o eleitorado feirense, e deve lembrar, na forma de ver de quem já acumula uma razoável vivência com boa quantidade de grandes líderes locais ( não assumi cargos importantes com nenhum deles, mas os acompanhei de perto em caminhadas, organização de diretórios, campanhas inteiras,cargos secundários) e também com líderes menores ,que há um traço comum a todos êles: a auto-contemplação. O poder os torna narcisistas e os leva ao erro. Todos os políticos com efetivo poder usam espelhos e são narcisistas e os que erram menos são aqueles que conseguem pensar um pouco mais em termos coletivos e consideram as opiniões dos seus companheiros de caminhada.Percentuais módicos, diga-se de passagem. Há os que traem de forma contumaz. Constituem,contudo, exceção patológica. O habitual é aplicar a Lei do Gérson(levar vantagem em tudo), reduzir as concessões à ética e permitir-se liberdades além do razoável. Apesar deste inferno moral a política nos atrai porque envolve força, poder, propriedade, utopias e até fantasias e decide desde a qualidade da sociedade em que vivemos até o preço do creme dental que usamos. A traição, vista como quebra de compromissos imutáveis é reflexo da concepção irrestrita de lealdade e de fidelidade. Trata-se,portanto, de uma idealização. O que é mais frequente é admitir a traição como fenômeno conjuntural.Deste modo, o comportamento de alguns políticos que têm uma história pregressa de compromissos com velhas e surradas lideranças não surpreende ,se levarmos em conta a imperiosa necessidade de manter-se fiel a suas histórias de vida.Dito de forma explícita: infidelidade política ao novo líder pode ser traduzida como fidelidade a velhos líderes. Lembre-se de Nicolau Maquiavel quando afirma:" Quando seja louvável em um príncipe o manter a fé (da palavra dada) e viver com integridade, e não com astúcia, todos compreendem; contudo, vê-se nos nossos tempos, pela experiência, alguns príncipes terem realizado grandes coisas a despeito de terem tido em pouca conta a fé da palavra dada, sabendo pela astúcia transtornar a inteligência dos homens; no final, conseguiram superar aqueles que se firmaram sobre a lealdade." De sorte,que o melhor caminho para o corajoso e intrépido deputado é beber na fonte brasiliense, buscar compreender a atual conjuntura nacional , estadual e municipal(o campo está aberto para êle) e dar tempo ao tempo, pois com os seus poucos quarenta anos e a sorte de ser um homem de palavra , tem todo um amanhã radiante a ser administrado com os seus companheiros de caminhada na estrada do poder.
Lembre-se que Judas era zelote. Segundo Kazantizakos, a traição foi um acordo entre o Deus tornado homem e o humano Judas, que sabia lutar mas não compreendia os desígnios divinos.Para salvar os homens, de todas as raças, de todas as cores e de todas as nações,Cristo precisava ser traído e crucificado e ressurgir dos mortos para dar origem ao Cristianismo. Neste caso a traição a Cristo fragiliza o traidor e eleva o traído. A história é feita pelos que compreendem e perdoam. Perdoar não significa esquecer.Perdoar é uma demonstração de maturidade.O futuro tem um encontro marcado com o jovem deputado e as aulas brasilienses deverão temperá-lo para os novos desafios. Êles virão. Não há duvidas! OLDECIR MARQUES


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