"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FORTES EMOÇÕES


Na escalação do ministério da presidente Dilma Rousseff, somente dois atores têm razões de fato para comemorar até agora: Lula, como seria previsível, e a direção do Partido Popular (PP). Lula segue emplacando ministros nas posições chave do futuro governo. O PP conseguiu o ministério que queria e para alojar nele quem Dilma não queria.

Ministros nomeados por Lula: Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria da presidência), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Comunicação), Míriam Belchior (Planejamento), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Haddad (Educação), Carlos Lupi (Trabalho) e Edison Lobão (Minas e Energia).

Lula verá com alegria a transferência de Alexandre Padilha do ministério de Relações Institucionais para o ministério de Saúde. Como viu a manutenção no ministério do Meio Ambiente de Isabella Teixeira e a volta ao ministério dos Transportes do senador Alfredo Nascimento. O suplente de Alfredo no Senado foi companheiro de farras de Lula.

O PP não apoiou formalmente Dilma para presidente da República. Sua direção alegou que uma fatia do partido preferia a eleição de José Serra (PSDB). Mas o PP arrancou de Dilma o Ministério das Cidades que foi seu durante o governo de Lula. E mais: impôs a Dilma para o ministério um nome que ela deplora.

Dilma quis manter em Cidades o advogado Márcio Fortes, indicado para o cargo em 2005 pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PE) – sim, aquele forçado a renunciar ao mandato por ter recebido um mensalinho de R$ 10 mil de um concessionário de restaurantes.

A bancada do PP na Câmara detesta Fortes porque ele nunca lhe deu fácil acesso ao orçamento do ministério. Ministro bom para deputados e senadores é ministro que libera com rapidez dinheiro para atender às emendas parlamentares apresentadas ao Orçamento da União. E que finge não ver o interesse suspeito deles em certos negócios.

O senador Francisco Dornelles, presidente do PP, foi a Dilma e disse: sinto muito, presidente, mas a senhora será obrigada a trocar Fortes por Mário Negromonte, deputado pelo PP da Bahia e queridinho dos seus colegas. Dilma sempre falou muito mal de Negromonte. Pois bem: foi obrigada a engoli-lo por exigência do PP.

No seu primeiro mandato, Lula resistiu a lotear o governo. Achou que dava para governar negociando aqui e ali a aprovação de projetos no Congresso. No que deu? Deu no mensalão – o pagamento de propinas para aprovação de projetos remetidos ao Congresso pelo governo.

No segundo mandato, Lula seguiu o conselho do seu ex-ministro José Dirceu, que caíra em desgraça por conta do mensalão. Chamou o PMDB e perguntou: O que você quer? Chamou nove outros partidos e perguntou a mesma coisa. Ora, eles queriam cargos para financiar futuras campanhas e forrar o bolso de alguns. Receberam.

Lula não inventou o fisiologismo. Tampouco o combateu – antes pelo contrário. Dilma se elegeu apoiada pela mais formidável coligação de partidos que o país jamais vira. Agora está sendo obrigada a retribuir o apoio. Recebeu, dá. É dando que se recebe. Diga-se a favor dela que tem até aqui tentado contrariar alguns dos seus aliados.

Tome-se o caso do poderoso PMDB. Perdeu o comando sobre os ambicionados ministérios das Comunicações e da Integração Nacional. Ganhará o do Turismo e o da Previdência Social – esse último um tremendo abacaxi. Pediu o ministério da Saúde ou sua parte mais endinheirada. Ganhou a Secretaria Especial de Ações Estratégicas.

A desforra do PMDB virá na hora certa. Como poderá vir também a do PSB, que elegeu mais governadores do que o PT. A direção do PSB sugeriu dois nomes, para os ministérios da Integração Nacional e o de Portos e Aeroportos, a ser criado. Dilma adiantou-se e convidou Ciro Gomes para o da Integração Nacional.

Ciro é do PSB. Mas não é. Ele é ele mesmo. O PSB considera que perdeu uma vaga no ministério.

O PC do B é dono do Ministério dos Esportes. Não quer ver despejado dali o atual ministro Orlando Silva. Dilma quer substituir Orlando pela deputada Luciana Santos, também do PC do B. Talvez tenha de criar um novo ministério para Orlando.

Você deve pensar que o PT está satisfeito com o número de ministérios reservados para ele. Longe disso. O PT são muitos e não há lugar para todos. Daí o barulho silencioso que faz.

Fortes emoções nos aguardam.

Fonte: Blog do Ricardo Noblat

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