(Imagem: Aquarius)
Como o amor, a miséria humana tem muitas faces, quase sempre visíveis. No riso, na dor, na devastação da natureza, nas fraudes, nas promessas não cumpridas. Nos corações. Nós as vemos pela TV, nos jornais, nas declarações, nas canções, nas ruas.
No caso da miséria, uma de suas faces hoje muito presente é a que promete sucesso e vitórias, que acena soluções – tão mais fáceis de vender quanto mais se omita que fracassos ou derrotas façam parte do jogo da vida. Ninguém deve perder, mas se perde, então é porque não foi bom jogador. Fracassou. Seja, portanto, marginalizado pela sociedade dos 'vencedores', onde tudo parece gravitar em torno do respeito e da consideração devidos, prioritariamente, aos que erguem um troféu, seja ele qual for. Roto troféu, o que celebra a vitória cobrando o aplauso enquanto simplesmente empurra 'o resto' para a vala comum.
Dois exemplos - ambos mostrados pela TV. Um é comum e se repete à exaustão no dia-a-dia. Está disseminado nos discursos que prometem fórmulas gastas na disputa pelo voto do eleitor. Que, por seu lado, se debate na miséria de uma esperança moribunda, mas teimosa, valente. Essa é a face que reitera gestos de afabilidade calculada, que sorri sorriso de traço amistoso cuidadosamente ensaiado. É face da miséria que pega no colo uma criança na tentativa de conquistar, pela inocência que vai ficando rara, uma anuência bamba, lacrimejante, estimulada por outras tantas fórmulas esgotadas que exploram a infância.
A outra face da miséria humana foi também a da dignidade no gesto humilde de um trabalhador de condição modesta. Autor de atropelamento, caiu em prantos diante das câmeras e se reconheceu culpado frente à mãe da vítima, um rapaz da mesma idade de sua filha. Pediu abraço e perdão à mulher, que propôs ao causador do acidente, como gesto de conciliação prontamente aceito, a prestação de serviço social por determinado período. Aqui, à face da miséria revestida pelo reconhecimento do erro, se aliou a grandeza do perdão num gesto de misericórdia – palavra que popularmente remete a Deus ou às Santas Casas.
A humildade que revela a própria miséria humana poderia estender um espelho diante da desfaçatez, do orgulho e da ambição que marcam a outra face de nossas fraquezas, incitando-lhes a vergonha ou o silêncio.
Melhor a vergonha, que fica bem em qualquer cara.
FONTE:EDUARDO LARA REZENDE (pretextoselr.blogspot.com)
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