"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

quinta-feira, 9 de junho de 2011

GESTÃO E COMPROMISSO

A avaliação do vereador José Carneiro Rocha(PDT), homem que busca ser coerente nos seus pronunciamentos na tribuna da Câmara de Vereadores da Cidade de Feira de Santana, sobre o caos na Saúde Pública , que não se restringe apenas à Feira mas a toda a microrregião, busca distribuir responsabilidades para todos os gestores estaduais que governaram a Bahia. Tem razão o vereador quando afirma que tudo seria bem melhor se os atuais membros do DEM recordassem o caos em que foi herdado o HGCA pelo atual Governador. Dr. Eduardo Leite que o diga. Foi um tempo de esperanças os primeiros meses do Governo Wagner. A lua de mel com a esperança e os sonhos de reconstrução, demorou muito pouco. Evoluimos muito pouco. E,se pudemos assistir à arquitetura babilônica do Hospital Estadual da Criança, em paralelo, assistimos também a um processo lento e caro de implantação desta Unidade de Saúde.Esperamos que a Parceria Público-Privada ali inaugurada gere bons frutos e não dê origem à excessiva privatização e mais desesperança.
Um dos efeitos colaterais mais graves da política de saúde que se implantou no Estado , nos últimos 30 anos, tem sido o excessivo credenciamento de serviços de diagnóstico ,altamente lucrativos, bem pagos, principalmente aqueles relativos à Alta Complexidade. O vereador pedetista argumenta que as cidades de Cachoeira e São Félix recusaram e transferiram pacientes que se deslocaram para diversas cidades da região, sem atendimento, por falta de vagas. Estas cidades tem,entretanto serviços de Alta Complexidade estão aptas a realizar tomografias, contudo, transferem uma cesareana por falta de anestesista. Inúmeras vezes pude oferecer meus serviços no Inácia Pinto a pacientes transferidos destas cidades, principalmente nos fins de semana. A forte inserção política destes gestores lhes permite escolher, prioritariamente, o que dá lucro.O que a sociedade realmente precisa passa para plano secundário.O que fizeram os governadores e secretários de saúde que antecederam o atual cabeça branca? A rigor a mesma coisa que faz o cabeça branca de plantão:privilegiaram empresas privadas travestidas de cooperativas e precarizaram ostensivamente as relações de trabalho de médicos e diversos profissionais de saúde; ampliaram os credenciamentos para métodos diagnósticos( é mais fácil fazer uma cintilografia miocárdica de elevado valor agregado, do que uma simples apendicectomia); construiram jardins suspensos que absorveram recursos milionários em detrimento de maternidades ou unidades clínicas horizontais de baixo custo de construção e de baixo custo operacional. Quantos gestores , treinados e formados nos diversos cursos de Administração Hospitalar, são contratados para o setor público? O número é ínfimo. Contudo, é fácil, muito fácil e muito perto, encontrar técnicos de contabilidade e advogados, que não sabem o que é sistema de aspiração de Venturi, que se enrolam com cozinheiras a interrogá-las sobre MT e SN(ignoram),que não conhecem uma mesa de cirurgia e seus movimentos, mas são nomeados, tem poder as vezes discricionário, demitem e infelicitam pobres trabalhadores e cometem erros primários, e agem como cabos eleitorais de deputados e agentes políticos e quase nunca como administradores hospitalares.Eis um ponto crucial da questão, nobre e inteligente vereador: a falta de compromisso com gestão de qualidade e a inexistência de formação específica que credencie diretores e administradores de Unidades de Saúde.
Além dos problemas gerados pela falta de capacitação, destaca-se a inexistência de uma política de expansão e criação de novas vagas.As unidades de Obstetrícia, em particular, reclamam complexos e caros Serviços de Neonatologia, que saturam com facilidade diante de uma demanda exacerbada por pactuações politicamente dirigidas. Não resolve o problema ofertar toneladas de equipamentos de alta tecnologia sem planejamento e sem capacitação profissionais. O Hospital Inácia Pinto, por exemplo , vivencia o problema da superlotação em decorrência da inexistência de avaliação correta da demanda explosiva determinada por uma pactuação sem controle. Além de ter que atender as solicitações de uma cidade com mais de 600 mil habitantes, foi guindado artificialmente à condição de Hospital Regional para atender a mais de 100 cidades da Bahia. A motivação é bem mais política do que técnica.
Um outro problema grave que aflige as unidades públicas de Obstetrícia da Cidade é o elevado número de cesareanas. Nesta terça-feira , 07/06/2011, realizei 10 procedimentos anestésicos, sendo que 06 deles foram cesareanas em 12 horas de plantão. Não é exagero afirmar que temos dias com 100% de cesareanas. As cesareanas, por determinação do MS/SUS, devem ter permanência mínima de 72 horas. Assim, a taxa de ocupação e a taxa de permanência reduzem , funcionalmente, as vagas. Isto é: temos leitos , mas não temos vagas!
O governo federal é especialista em enviar equipamentos. Entretanto, não fiscaliza. O Inácia tem exemplo desta omissão. Aparelho de ultrassonografia doado pelo MS, após passar dois anos encaixotado sem utilização, foi montado e colocado à disposição de médicos da Unidade . Hoje dorme esquecido em uma gaveta de um improvisado conforto de enfermagem. Faltam compromisso, gestão e responsabilidade. Sobram desperdício e omissão. Serviço Público é tratado como terra de ninguém. O Governo Dilma parece patinar neste campo. Até o presente momento, só assistimos a promessas. Parece ser mais importante o combate à inflação e os investimentos em Saúde parecem desacelerar. Apesar de tudo, temos esperanças e confiamos na Presidenta e estamos a aguardar as 500 UPAS e as 8.000 Unidades Básicas de Saúde da campanha 2010.Acreditamos, entretanto, se o Governo Municipal nomear melhores e mais capacitados gestores, daríamos passos de gigantes. OLDECIR MARQUES

Nenhum comentário:

Postar um comentário