"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

VACINA PARA ESQUISTOSSOMOSE

Clique na figura para ampliá-la.

9/11/2009

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Após quase cinco anos de trabalho, encerra-se no início de 2010 o Projeto Temático “Genoma funcional do Schistosoma mansoni aplicado ao desenvolvimento de vacinas”, apoiado pela FAPESP.

O projeto buscou avançar o conhecimento para o desenvolvimento futuro de uma vacina para a esquistossomose, doença parasitária que atinge 200 milhões de indivíduos em regiões tropicais do mundo, sendo endêmica em 74 países, inclusive no Brasil.

O Projeto Temático coordenado por Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Instituto Butantan, utilizou como base o sequenciamento feito no projeto GenomaSchistosoma mansoni, financiado pela FAPESP no âmbito da rede Onsa (Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos, na sigla em inglês), uma rede virtual de laboratórios genômicos do Estado de São Paulo.

A base de dados continha 163 mil sequências de seis estágios do transcriptoma do parasita, obtidos por meio da metodologia Orestes (Open Reading frame Expressed Sequence Tags), resultando em 31 mil segmentos gênicos montados.

No transcriptoma do Schistosoma, cerca de 55% das sequências obtidas codificam para proteínas de funções desconhecidas. Elas não encontram similares nos bancos de dados públicos, o que pode significar que assumem funções específicas nesse parasita que ainda precisam ser descobertas.

Os pesquisadores utilizaram o método da vacinologia reversa, que parte de uma análise bioinformática de todo o genoma, realizando uma varredura em uma grande quantidade de genes/proteínas para identificar quais têm potencial de interação com o sistema imunológico do organismo, isto é, potencial de induzir uma resposta imune protetora. No método clássico, cada proteína é testada individualmente até se encontrar uma com atividade protetora.

A aplicação da vacinologia reversa para Schistosoma mansoni é mais complexa porque as ferramentas de bioinformática ainda não estão tão bem desenvolvidas como no estudo de bactérias. “Trata-se de um organismo muito complexo. É diferente mapear genes de bactérias, por exemplo, que têm sequências contínuas”, disse Luciana à Agência FAPESP.

Por isso, mesmo tendo se iniciado em 2001, o sequenciamento do genoma do verme responsável pela esquistossomose só foi concluído no início de 2009 e ainda traz algumas lacunas.

A equipe do Butantan selecionou 30 genes/proteínas por ferramentas de bioinformática para investigar o potencial protetor. Estes antígenos foram testados utilizando a técnica de vacina de DNA. Diferente das vacinas convencionais compostas por proteínas ou bactérias mortas ou atenuadas, as vacinas de DNA introduzem os plasmídeos dentro da própria célula do indivíduo, onde são produzidas as proteínas. Serão elas que induzirão a resposta imune.

Os ensaios de eficiência exigem uma certa paciência. “Um ensaio de desafio leva uma média de quatro meses. A cercária leva cerca de uma hora para penetrar na pele dos camundongos. Depois, é necessário esperar 45 dias para elas atingirem a fase adulta”, contou Luciana.

Os animais são então analisados para se comparar o número de parasitas encontrados nos animais imunizados com o dos não imunizados. Essa diferença indica o grau de eficiência da vacina. “Considera-se uma proteção razoável uma redução entre 40% e 50%”, disse.

Dos 30 genes analisados, seis inicialmente se mostraram com maior potencial protetor e foi possível aprofundar os estudos e confirmar a proteção para três desses. Porém, devido à grande complexidade do organismo, o grupo estima que serão necessários combinar vários antígenos para compor uma vacina que seja eficaz contra a doença. Portanto, os estudos continuam.

Para complicar, vacinas que se mostrem eficientes em animais não o serão, necessariamente, em organismos maiores, como o humano, o que dá uma mostra da dificuldade e do tempo necessários para o desenvolvimento da pesquisa.

Segundo Luciana, ainda levará tempo para formar um coquetel de antígenos eficaz contra a esquistossomose. Por isso, sua equipe já prepara um novo projeto de pesquisa a fim de dar continuidade aos avanços obtidos até agora.

“É preciso lembrar que o parasita passou muitos e muitos anos aprendendo a driblar o nosso sistema imunológico, por isso, nós também teremos que ter paciência para conseguir entendê-lo e aprender a nos defender dele”, destacou.

FONTE: AGENCIA FAPESP

Oldecir Marques.

Nenhum comentário:

Postar um comentário