"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

sábado, 27 de agosto de 2011

JORNALISTA MARCOS UCHOA MOSTRA ESPERANÇA DOS LÍBIOS APÓS QUEDA DA DITADURA KADAFI



Seis dias depois de darem início ao cerco da capital Líbia, as forças rebeldes ainda enfrentam focos de resistência na cidade.


Imagine a avenida principal de uma cidade grande deserta. E Trípoli é uma capital. O medo e a tensão explicam muito. A cautela por parte da maioria mais ainda. Mas pelo menos sair para comprar o básico é necessário, e isso é bem difícil.


Uma cidade em guerra tem seus hábitos totalmente atrapalhados pelas condições, que são óbvias: todas as lojas ficam fechadas. O comércio da cidade não abre desde sábado da semana passada. Então, os moradores têm muita dificuldade e, quando uma loja abre, todo mundo corre para ela. É um certo tumulto, com as pessoas pegando o que podem. O dono explica que o conselho dos rebeldes pediu que todas as lojas abrissem no sábado (27), o que, se acontecer, vai melhorar a vida de todo mundo.


Mulharas rodeiam a Medina, a cidade velha de Trípoli. O chamado para a reza feito pelos muezins ecoa por ruelas quase vazias. Trípoli foi uma cidade de piratas, onde o tráfico de escravos era comum durante séculos. São ruas, onde já se viu muito sofrimento.


O repórter Marcos Uchôa entrou para a reza de sexta-feira, a mais importante da semana, a primeira desde que Kadhafi perdeu o poder. Dentro das mesquitas, muitos agradecem o momento. Mas não se vê muita gente. São 38 mesquitas só na parte antiga da cidade, mas nessa revolução, o papel da religião foi pequeno.


Quando as pessoas saíram das mesquitas, falavam de outras coisas. Um velhinho pensava no futuro melhor. Um pai, com três filhos, mais ainda, disse que agora vai ter direitos, que a educação e a saúde dos meninos serão melhores.


Muita coisa vai ter que mudar. A lembrança de tanta violência deve ser retirada rapidamente das ruas. Existem carcaças de carros queimados e furados de bala por todo lado.


Uma coisa já mudou: todo mundo quer falar. Um homem diz: “Ofereceram milhões pelo Kadhafi, mas ele não vale 1 dinar”. Logo depois, chega um amigo e a alegria transborda.


Um senhor, indignado com Kadhafi, conta uma das dificuldades de viver 42 anos com medo. Ele diz que, antes, não poderia nunca falar com estrangeiros, muito menos jornalistas, porque a polícia chegaria e o levaria. E que agora ele sente que a liberdade chegou e que a vida vai mudar totalmente.


Num carro cheio de rebeldes, um diz que Kadhafi não está em Trípoli, mas no sul, no deserto. Outro dá as boas-vindas à nova Líbia. E uma mulher explode de felicidade.


Um dos manifestantes, durante uma passeata, exibe uma gaiola, símbolo de onde estavam os líbios e de onde querem botar Kadhafi.


Os líbios estão vivendo o período de ramadã nesta sexta-feira (26), o equivalente do domingo para os cristãos. Há muita festa, porque apesar de ser o dia em que fazem o jejum e só comem depois do pôr do sol, esta sexta é para comemorar. Particularmente na Praça Verde do passado, hoje chamada de Praça dos Mártires.


Um grupo de mulheres vai crescendo em torno de uma bandeira. Elas cantam e gritam sem parar. No meio disso tudo, aparece algo bem novo: começaram a distribuir um jornal na antiga Praça Verde, que, dentro, traz a foto de Kadhafi, como se fosse um vampiro. Antigamente, qualquer jornal na Líbia tinha que ter 200 fotos do ditador, agora só mostra essa foto. E começa, realmente, a dar notícias sobre a realidade do que os líbios vivem.


Mas, como qualquer um sabe, o jornal não traz só boas notícias, porque a guerra ainda não terminou. Ainda se combate e se morre em Trípoli.


O complexo de Bab al Azizia era uma espécie de fortaleza de Muammar Kadhafi, de onde ele mandava em toda a Líbia, e onde estava todo exército e munição. Logo ao lado, fica o bairro de Abu Salim, onde moravam os adeptos dele e o onde existem combates até agora.


Dentro do que era a fortaleza de Kadhafi, se festejava ainda mais nesta sexta. Era um engarrafamento de carros, de gente e um visitante bem especial. Muitos líbios foram visitar o principal comandante militar que participou das lutas em Bengazi e em Misrata também. Era a primeira vez que ele ia ao local mais simbólico para os líbios, em relação ao fim do poder de Muammar Kadhafi. Ele estava cercado por um monte de seguranças e de líbios que queriam chegar perto para cumprimentá-lo pela vitória.


O ex-general do ditador, que mudou de lado na revolução, disse que estava muito feliz por estar nesse lugar e que agora o futuro de todos será bem melhor.


Pode ser, mas o presente, para os jornalistas, está um pouco mais complicado. Nesta sexta, também o hotel foi atacado. Com toda a imprensa internacional no local, qualquer tiro ganha repercussão de uma bomba.

FONTE:AGÊNCIA FLORIPA


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