"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

DEFESA DO CONSUMIDOR




Produtos vendidos a granel escondem preços absurdos
Comercializadas em pequenas porções, mercadorias fazem consumidor perder percepção real do valor pago em escala


Que tipo de líquido pode custar mais de R$ 17.300,00, o litro? E o que chegaria a ser vendido a quase R$ 500,00, o quilo? Ao contrário do que a maioria das pessoas possa ter imaginado, não se trata aqui de algo acessível apenas aos endinheirados, mas sim de produtos que todos as pessoas comuns assalariadas um dia já compraram. O caso dos R$ 17 mil, pasme, é da tinta de impressora .
Um artigo vendido a preço de ouro é a tinta colorida para impressora. Assim como o orégano, se elas fossem vendidas em grande quantidade, certamente não alcançariam valores tão elevados.

Em um site de venda de artigos para informática, um cartucho com 3 mililitros de tinta é oferecido por R$ 51,90. Se fosse comprar o produto por litro, o consumidor teria de desembolsar a surpreendente cifra de R$ 17.300,00. Só para efeito de comparação, a renomada Champagne Veuve Clicquot City Travelle custa, por mililitro, R$ 1,29. Já a tinta, R$ 17,30.

Também chama atenção o fato de um dos modelos de impressora da mesma marca ser vendida por aproximadamente R$ 170,00. A reposição de dois cartuchos (10 mililitros o preto e 8 mililitros o colorido), fica em torno de R$ 130,00. De tão polêmico, o preço de tintas de impressoras é tema de discussões em e-mails que circulam pela Internet.


O economista Gallo lembra que, neste caso, o cartucho de impressora não envolve somente a tinta, mas também uma série de técnicas que custaram caro para serem desenvolvidas. “E o próprio cartucho onde a tinta está acondicionada também tem um desenho e toda uma tecnologia para funcionar adequadamente”, frisa.

Ainda que as empresas não estejam deliberadamente enganando o consumidor, já que explicitam o preço e volume ou peso do produto comercializado, Gallo acredita que este tipo de distorção induz os consumidores ao erro.
O problema é que, por serem comercializadas em pequenas porções, essas mercadorias fazem com que o consumidor perca totalmente a percepção real do valor que está pagando. Uma das principais armadilhas se esconde nas gôndolas de especiarias e condimentos dos supermercados.

Em um desses estabelecimentos de Bauru, um pacote com 10 gramas de orégano é vendido por R$ 1,19. Ao fazer uma conta simples, o consumidor leva um susto: está pagando R$ 119,00 pelo quilo do produto, mais caro do que muitos alimentos requintados. Caso a embalagem mude para um pote de vidro, o preço por 12 gramas salta para R$ 5,39, o equivalente a R$ 449,16 o quilo.

Outros exemplos semelhantes são a pimenta do reino, cujo sachê de 50 gramas não sai por menos de R$ 2,65, ou R$ 53,00, o quilo. A cebolinha desidratada, vendida a R$ 1,22 a embalagem com 7 gramas, eleva o quilo ao valor de R$ 174,28. Já 8 gramas da salsa desidratada saem por R$ 1,39 e, neste caso, o quilo do produto passa a ser de R$ 173,75.

São preços para os quais nem sempre o consumidor se atenta. A funcionária pública Berenice Batistussi sempre compra produtos como a pimenta do reino ou orégano, por exemplo. Ela diz que não se preocupa com o preço que pagaria por grandes quantidades desses temperos porque usa pouco. “Sei que um quilo de orégano é, realmente, um absurdo, mas uso pouco e nem penso sobre o assunto”, diz.


Valor agregado


De acordo com o economista Mauro Gallo, o valor agregado ao produto final inclui não apenas a matéria-prima, que representa apenas uma pequena fração do valor do produto, mas também a embalagem, mão-de-obra, impostos, processamento do produto e custos com o cumprimento de exigências, inclusive sanitárias, para o funcionamento da empresa.

“Além disso, há a margem de lucro do mercado, que é aplicada em toda a cadeia: pelo produtor, pelo fabricante, pelos distribuidores intermediários e, finalmente, pelos supermercados”, enumera.

No entanto, os preços praticados ao consumidor final nem sempre podem ser considerados justos. Gallo explica que as empresas usam pesquisas, baseadas em parâmetros de preços aplicados pelo mercado, para chegar a determinado valor final de um produto.

Segundo o economista, a equação é baseada na tolerância do consumidor a determinado preço a ser pago por um produto específico. Em uma tradução direta, seria chegar a um limite de preço a ser aceito pelo consumidor, com o máximo possível de margem de lucro para as empresas.
Ana Paula Pessoto/Com Tisa Moraes
Fonte Newsletter JCNet.

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