Bento XVI aceita o uso de preservativos - 'em alguns casos'
Livro que será publicado na terça traz aparente mudança de posição do papa
O papa Bento XVI na ordenação dos novos cardeais, neste sábado (Alberto Pizzoli/AFP)
"Em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de infecção, pode ser, um primeiro passo para abrir caminho rumo a uma sexualidade mais humana"
O papa Bento XVI afirma que o uso de preservativos é aceitável "em certos casos", especialmente para reduzir o risco de infecção do HIV, em um livro de entrevistas que será lançado na terça-feira. A declaração marca a primeira vez que o sumo pontífice destoa da posição oficial mantida pela Igreja Católica até agora - a de que os fiéis católicos não devem usar camisinha. Trechos do livro foram publicados na edição deste sábado do jornal oficial do Vaticano, o L'Osservatore Romano.
Na série de entrevistas que será publicada na Alemanha, país natal do pontífice de 83 anos, Bento XVI é questionado sobre a oposição do Vaticano ao uso da camisinha. "Com certeza (a igreja) não vê (o preservativo) como uma solução real e moral", responde o papa. Mas aí vem a novidade: "Em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de infecção, pode ser, no entanto, um primeiro passo para abrir o caminho a uma sexualidade mais humana", completou o líder de 1,1 bilhão de católicos do planeta.
O livro, que tem como título Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times ("Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo"), é baseado em 20 horas de entrevistas conduzidas pelo jornalista alemão Peter Seewald. Até o momento, o Vaticano proíbe o uso de qualquer forma de contracepção - aceita apenas a abstenção -, mesmo como forma de evitar doenças sexualmente transmissíveis.
Bento XVI provocou revolta internacional em março de 2009 durante uma visita à África, continente devastado pela Aids, ao afirmar à imprensa que a doença era uma tragédia que não podia ser combatida com a distribuição de preservativos, que na opinião dele até agravava o problema. Para ilustrar sua aparente mudança de posição, Bento XVI ofereceu o exemplo do uso da camisinha na prostituição.
"Pode ser justificada em casos individuais, por exemplo, quando uma prostituta utiliza um preservativo, onde isto pode ser... um pouco de responsabilidade, para desenvolver o entendimento de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se deseja", afirmou Bento XVI no livro. "Mas não é a maneira correta de lidar com o horror da infecção pelo HIV".
'Expressão do amor' - Bento XVI reiterou que o uso do preservativo por si só não resolveria o problema do HIV. "Deve acontecer muito mais", disse. "Tornar-se simplesmente fixado na questão dos preservativos torna a sexualidade mais banal e esta é exatamente a razão pela qual tantas pessoas não encontram mais a sexualidade como uma expressão do seu amor, mas como um tipo de droga auto-administrada."
Além dos preservativos, o livro, que deve ser traduzido para 18 línguas, aborda muitas outras questões sensíveis, incluindo os escândalos de pedofilia, o celibato e a ordenação feminina. Ele também afirma, por exemplo, que é contra a proibição do uso do véu integral pelas mulheres muçulmanas em países ocidentais, como a França.
(Com agência France-Presse)/VEJA.COM
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