Roberto Amaral fala sobre socialismo, PSB e eleições 2010 Partido Socialista Brasileiro - PSB |
05/08/2010
O Vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Amaral, concedeu entrevista ao jornalista, Abnor Gondim, do Jornal DCI. Confira abaixo:Defensor do socialismo democrático, o PSB (Partido Socialista Brasileiro) completa este mês 64 anos em grande estilo. É o partido de esquerda da base aliada do governo com mais chances de dobrar de tamanho, contando inclusive com candidaturas de empresários de peso.
São os casos de Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e candidato a governador, e de Mauro Mendes (MT), o mais rico dos concorrentes nas disputas de governos estaduais.
O socialismo do PSB aderiu ao capitalismo? Quem responde é o vice-presidente nacional do partido, Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula, invertendo a pergunta. "A presença de empresários no partido não significaria também que eles aderiram ao socialismo?", e justificou: "Ao contrário dos neoliberais, nós defendemos a empresa brasileira, o capital nacional. O fundamental é o eixo do partido e se essas pessoas estão fiéis a esse eixo".
No eixo das propostas do partido, estão a taxação de grandes fortunas, o apoio aos sem-terra e a redução da jornada de trabalho, temas repudiados pelas entidades empresariais.
Para estas eleições, o PSB tem candidatos competitivos em oito estados - o dobro do atual número de governadores - , espera eleger seis senadores - quatro a mais do que em 2006 -, e passar de 30 para 40 deputados federais. De quebra, o partido tem 309 prefeituras, inclusive em capitais importantes, a exemplo de Belo Horizonte e Curitiba.
Confira os principais trechos da entrevista exclusiva ao DCI:
DCI: Neste mês de agosto, o PSB completa 64 anos de história. O que o partido tem a comemorar?
Roberto Amaral: Sobretudo a sua coerência. O grande legado do partido foi a coragem de, em 1945, levantar a tese do socialismo democrático, uma tese vitoriosa no início do terceiro milênio. Fizemos evidentemente opção eleitoral, não fizemos nenhuma concessão ideológica. Isso a sociedade, o eleitorado brasileiro compreendeu e está dando respostas nas eleições.
DCI: O que o PSB espera dessas eleições?
R.A.: Uma delas é o comprometimento de todos os partidos com fortalecimento do processo democrático, de sua consolidação. O udenismo (na entrevista original o repórter incluiu o termo comunismo, o que não corresponde a declaração dada por Roberto Amaral), o chamamento às casernas, está definitivamente afastado do processo histórico brasileiro. A outra coisa que espero é assegurar a continuidade do nosso poder de governo, uma social-democracia de esquerda, avançando. É o que pretendemos com o governo de Dilma [Rousseff, presidenciável do PT].
DCI: O sr. concorda com a avaliação de que o PSB está herdando o espólio do DEM no nordeste?
R.A.: Não é isso, não. O espólio do DEM está caminhando para o suicídio. O PSB sempre foi forte no nordeste. Não esqueça que o nosso ex-presidente era o governador Miguel Arraes. Tinha uma liderança forte não só em Pernambuco, mas em todo o nordeste. O que está ocorrendo é o processo de consciência das massas. As grandes massas passaram a ter rompimento dos processos tradicionais, assistencialistas, proporcionado pelas políticas de inclusão do governo. Essas massas se livraram do coronelismo e passam a ter um posicionamento eleitoral independente. Isso é um dos frutos do Bolsa-Família e das políticas de inclusão que libertaram o homem do campo.
DCI: Por que o PSB prega o fortalecimento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra), se a candidata do PT já disse que não vai aceitar invasões de terra?
R.A.: São duas questões diferentes. Uma é o programa geral da candidata, que tem de discutir o quadro das alianças dos partidos que dão apoio a ela. Ou seja, ela é uma candidata de coalizão. Portanto, o programa tem de ser de coalizão. Não pode ser um programa do PSB, nem do PMDB, nem do PT. O nosso papel é defender as nossas teses.
DCI: Mas o MST, com essas invasões, não é uma ameaça à propriedade privada?
R.A.: Não estou preocupado em defender a propriedade privada. Estou mais preocupado com o sentido social da propriedade, como está na Constituição. Ela tem remédios para qualquer infração. Isso é do ponto de vista legal. O que nós estamos dizendo é que o movimento social tem de ser tratado com diálogo. O MST é um movimento tão legítimo quanto o movimento ruralista. E ninguém chama a polícia contra o movimento ruralista, e eu nem sei por quê. Ao contrário, quando eles deixam de pagar os bancos oficiais, tem sempre alguém que apresenta uma emenda no Congresso para anistiar os devedores.
DCI: Outra proposta polêmica do PSB é a taxação de grandes fortunas. Por que ela foi apresentada?
R.A.: Isso é uma proposta conservadora. Isso existe no mundo inteiro. E é um instrumento de distribuição de renda. O que nós queremos é que o Brasil chegue ao nível das grandes democracias da Europa, como a Suécia, como a Noruega. Esse é o nosso marco em que a distância entre o maior e o menor salário tende a diminuir. Aqui é o contrário. O PSB também defende a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas, o que constava na primeira versão do programa da Dilma e foi retirado a pedido do PMDB. É a posição do movimento sindical brasileiro. É possível. Sempre que há qualquer benefício para os trabalhadores, aparecem os argumentos neoliberais dizendo que vai quebrar isso, vai quebrar aquilo. Não quebra nada. Nós estamos com o salário mínimo de US$ 300. E era um crime quando nós falávamos há alguns anos atrás para tentar aproximá-lo de US$ 100. Reduzir a jornada não fecha nenhuma empresa. Ao contrário, vai aumentar a produtividade.
DCI: Essa taxação das grandes fortunas poderia afetar alguns dos candidatos a governador do partido, a exemplo de Paulo Skaf (SP) e Mauro Mendes (MT), que têm fortunas de mais de R$ 10 milhões?
R.A.: Eles vão pagar imposto. Qual o problema?
DCI: Agora, essa presença de empresários poderosos no partido indicaria que o socialismo do PSB teria aderido ao capitalismo?
R.A.: Aí eu inverto. A presença de empresários no partido não significaria também que eles aderiram ao socialismo? Nós não somos contra o empresariado brasileiro. Ao contrário dos neoliberais, nós defendemos a empresa brasileira, o capital nacional. Não vejo contradição. O fundamental é o eixo do partido e se essas pessoas estão fiéis a esse eixo.
DCI: Por falar em Skaf, houve uma reação dos socialistas do grande ABC em relação ao ofício do partido que obrigou os filiados que ocupam cargos eletivos e os candidatos a apoiar a candidatura dele. A deputada federal Luiza Erundina reagiu e disse que não vai votar nele. Ela poderá ser punida?
R.A.: Não acho que ela possa, nem creio que deva ser punida. Compreendemos a posição dela e vamos construir o que é mais importante nessas eleições, que é a nossa bancada e a eleição da Dilma.
DCI: O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) esteve na última semana com Dilma, mas não se comprometeu a gravar programa com ela. A cúpula pode pedir isso a ele?
R.A.: Não sei o conteúdo da conversa. O que nós temos dito é que o Ciro é do quadro partidário. Ele tem dito a mim e ao governador Eduardo Campos (PE) - presidente do partido - que vai seguir a orientação partidária. Mas não temos fita métrica para medir a intensidade da participação de cada um na campanha da Dilma. Então, cada um participa da forma que mais lhe aprouver, porque política tem de ser feita com felicidade e com alegria.
DCI: Em alguns estados, o PSB disputa o governo com partidos aliados de Dilma e do Lula. Qual o tratamento que o partido espera da candidata?
R.A.: O que está acertado entre as partes é que todos os candidatos da base governista serão tratados em igualdade de condições. E disso nós não vamos abrir mão. Ela terá de ir aos dois palanques.
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