"TODA SOCIEDADE SE AFERRA A UM MITO E VIVE POR ÊLE. O NOSSO MITO É O DO CRESCIMENTO ECONÔMICO"- Tim Jackson

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

BÓCIO NODULAR



Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Um tratamento desenvolvido por pesquisadores brasileiros poderá ajudar populações em todo o mundo que sofrem de bócio, o inchaço da glândula tireoide causado pela carência crônica de iodo no organismo.

A equipe liderada pelo endocrinologista Geraldo Medeiros-Neto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), apresentou um tratamento relativamente barato em substituição à cirurgia tradicional para a retirada da tireoide.

O custo menor é um fator importante, considerando que a incidência de bócio se concentra principalmente em regiões mais carentes do planeta. O caráter social da pesquisa chamou a atenção da revista Nature Reviews Endocrinology, que destaca o trabalho brasileiro em sua edição de janeiro.

A revista comenta os resultados da pesquisa conforme descritos no artigo High prevalence of side effects after recombinant human thyrotropin-stimulated radioiodine treatment with 30 mCi in patients with multinodular goiter and subclinical/clinical hyperthyroidism, publicado na revista Thyroid (19, 945–951 – 2009).

“A Organização Mundial de Saúde estima que, em todo o mundo, 2 bilhões de pessoas sofram de deficiência de iodo e de 20 milhões a 50 milhões apresentem bócios com nódulos. É impraticável operar tanta gente”, disse Medeiros-Neto, que coordena o projeto “Metilação do gene simportador sódio-iodo em tumores de tireoide”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

Em 2001, sua equipe percorreu 12 Estados brasileiros e registrou casos de bócio entre 5% e 10% da população acima de 50 anos. A partir de dados obtidos pelo levantamento, o grupo estima que cerca de 2,5 milhões de brasileiros sofram da doença, um número muito grande para que a cirurgia possa ser adotada como única terapia. A solução foi procurar métodos mais viáveis de tratamento.

Na primeira etapa do trabalho, os pesquisadores adotaram a administração oral de iodo radioativo como meio de reverter a doença. “No entanto, percebemos que a absorção desse metaloide pela tireoide era muito pequena”, disse Medeiros, explicando que doses mais altas provocavam efeitos colaterais indesejáveis por causa da elevada radiação ao corpo todo.

Como solução, a equipe ministrou o iodo radioativo precedido por uma injeção do hormônio recombinante de TSH, que estimula a glândula a absorver o radioiodo. Após o acompanhamento de 42 pacientes nos três anos seguintes à terapia, houve uma redução de 60% do volume dos bócios e mesmo o desaparecimento completo do “inchaço” em alguns casos.

Um dos pontos fortes do novo tratamento é o custo, estimado em menos de R$ 300 por paciente. Os pesquisadores devem agora aperfeiçoar a técnica de modo a melhorar os resultados.

“Sabemos que o paciente deve evitar consumir sal iodado precedendo o tratamento. O tratamento também pode levar ao hipotireoidismo, ou seja, a tireoide deixa de funcionar”, explicou Medeiros-Neto. Nesse caso, o resultado é similar ao de uma cirurgia de extração da glândula, porém, o objetivo era o de manter a tireoide ativa e em condições normais.

Menos iodo no sal

Na população mais jovem o problema é diferente. Desde o fim da década de 1990 a legislação estipulou a inclusão de iodo no sal de cozinha, o que aumentou o consumo do elemento químico. Diferentemente da população mais velha, os mais jovens deixaram para trás a deficiência de iodo. Mas, com o tempo, o que se verificou foi o excesso.

Em diversas regiões do país, os pesquisadores da FMUSP identificaram em jovens com idades de 6 a 14 anos níveis de iodo na urina superiores ao valor considerado normal.

A ingestão de iodo em excesso durante um período prolongado pode provocar entre adultos jovens o aumento das doenças autoimunes da tireóide, que se manifestam quando o próprio organismo passa a fabricar anticorpos que destroem a glândula.

Por conta disso, as pesquisas feitas pelo grupo na FMUSP deverão auxiliar a aferir o teor de iodo presente no sal de cozinha brasileiro. A legislação de 1998 determinou a adição de 40 a 100 miligramas de iodo para cada quilo de sal e, em 2003, essa faixa foi ajustada para entre 20 e 60 miligramas/kg de sal.

No entanto, de acordo com os trabalhos feitos pelos pesquisadores, entre 20 e 40 miligramas do mineral por quilo de sal de cozinha já seriam suficientes para evitar o bócio sem provocar um aumento perigoso nas taxas de iodo no organismo.

Esses resultados serão levados à Comissão Interinstitucional para o Controle dos Distúrbios por Deficiência de Iodo do Ministério da Saúde, da qual Medeiros-Neto faz parte.

O artigo Hyperthyroidism and radioiodine, que comenta o estudo brasileiro, pode ser lido por assinantes da Nature Reviews Endocrinology (doi:10.1038/nrendo.2009.234) em www.nature.com/nrendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário