Por Fábio Reynol
Agência FAPESP – Um tratamento desenvolvido por pesquisadores brasileiros poderá ajudar populações em todo o mundo que sofrem de bócio, o inchaço da glândula tireoide causado pela carência crônica de iodo no organismo.
A equipe liderada pelo endocrinologista Geraldo Medeiros-Neto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), apresentou um tratamento relativamente barato em substituição à cirurgia tradicional para a retirada da tireoide.
O custo menor é um fator importante, considerando que a incidência de bócio se concentra principalmente em regiões mais carentes do planeta. O caráter social da pesquisa chamou a atenção da revista Nature Reviews Endocrinology, que destaca o trabalho brasileiro em sua edição de janeiro.
A revista comenta os resultados da pesquisa conforme descritos no artigo High prevalence of side effects after recombinant human thyrotropin-stimulated radioiodine treatment with 30 mCi in patients with multinodular goiter and subclinical/clinical hyperthyroidism, publicado na revista Thyroid (19, 945–951 – 2009).
“A Organização Mundial de Saúde estima que, em todo o mundo, 2 bilhões de pessoas sofram de deficiência de iodo e de 20 milhões a 50 milhões apresentem bócios com nódulos. É impraticável operar tanta gente”, disse Medeiros-Neto, que coordena o projeto “Metilação do gene simportador sódio-iodo em tumores de tireoide”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
Em 2001, sua equipe percorreu 12 Estados brasileiros e registrou casos de bócio entre 5% e 10% da população acima de 50 anos. A partir de dados obtidos pelo levantamento, o grupo estima que cerca de 2,5 milhões de brasileiros sofram da doença, um número muito grande para que a cirurgia possa ser adotada como única terapia. A solução foi procurar métodos mais viáveis de tratamento.
Na primeira etapa do trabalho, os pesquisadores adotaram a administração oral de iodo radioativo como meio de reverter a doença. “No entanto, percebemos que a absorção desse metaloide pela tireoide era muito pequena”, disse Medeiros, explicando que doses mais altas provocavam efeitos colaterais indesejáveis por causa da elevada radiação ao corpo todo.
Como solução, a equipe ministrou o iodo radioativo precedido por uma injeção do hormônio recombinante de TSH, que estimula a glândula a absorver o radioiodo. Após o acompanhamento de 42 pacientes nos três anos seguintes à terapia, houve uma redução de 60% do volume dos bócios e mesmo o desaparecimento completo do “inchaço” em alguns casos.
Um dos pontos fortes do novo tratamento é o custo, estimado em menos de R$ 300 por paciente. Os pesquisadores devem agora aperfeiçoar a técnica de modo a melhorar os resultados.
Em diversas regiões do país, os pesquisadores da FMUSP identificaram em jovens com idades de 6 a 14 anos níveis de iodo na urina superiores ao valor considerado normal.
A ingestão de iodo em excesso durante um período prolongado pode provocar entre adultos jovens o aumento das doenças autoimunes da tireóide, que se manifestam quando o próprio organismo passa a fabricar anticorpos que destroem a glândula.
Por conta disso, as pesquisas feitas pelo grupo na FMUSP deverão auxiliar a aferir o teor de iodo presente no sal de cozinha brasileiro. A legislação de 1998 determinou a adição de 40 a 100 miligramas de iodo para cada quilo de sal e, em 2003, essa faixa foi ajustada para entre 20 e 60 miligramas/kg de sal.
No entanto, de acordo com os trabalhos feitos pelos pesquisadores, entre 20 e 40 miligramas do mineral por quilo de sal de cozinha já seriam suficientes para evitar o bócio sem provocar um aumento perigoso nas taxas de iodo no organismo.
Esses resultados serão levados à Comissão Interinstitucional para o Controle dos Distúrbios por Deficiência de Iodo do Ministério da Saúde, da qual Medeiros-Neto faz parte.
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