Lama tóxica ameaça vida de segundo maior rio europeu
por LUMENA RAPOSO08 Outubro 2010
Seis países ribeirinhos, além da Hungria, estão ameaçados por fuga de resíduos.
A morte chegou ontem às águas do Danúbio. No Raab, o principal afluente em território húngaro do segundo maior rio da Europa, a seguir ao Volga, começaram a aparecer peixes mortos ao mesmo tempo que da água se elevava um odor acre. São os efeitos da chegada ao Raab da lama tóxica vermelha que, até segunda-feira, estava contida num reservatório de uma refinaria de alumínio em Ajka, 160 km a Oeste de Budapeste.
"Posso confirmar que constatámos perda de peixes no principal afluente do Danúbio", disse Tibor Dobson. "Os peixes mortos foram vistos no rio Raab, que desagua directamente no Danúbio. Eles não resistiram ao PH (índice de acidez) de 9,1", sublinhou este chefe regional dos serviços anticatástrofes húngaro. Horas antes, Dobson confirmara que a "morte" atingira o Marcal, afluente do Raab.
A lama tóxica, que se espalhou por sete aldeias húngaras, provocou o que é considerado já como a maior catástrofe ambiental da história do país: fez quatro mortos, entre eles uma bebé de 14 meses, três desaparecidos e mais de 150 feridos. E ameaça agora os países ribeirinhos do Danúbio. O próximo país sob ameaça da lama tóxica é precisamente a Croácia: para o alcançar, o Danúbio apenas tem de percorrer uns meros 155 Km para Sul após sair da capital húngara - Budapeste. Segue depois para a Sérvia, Bulgária, Moldávia, Ucrânia e Roménia, antes de desaguar no mar Negro.
Ao início da tarde de ontem, quando os responsáveis húngaros ainda tinham a esperança de que o caudal do Raab pudesse ajudar a diluir a poluição provocada pela lama vermelha, já as autoridades romenas reforçavam a vigilância e tomavam medidas para, pelo menos, tentar minorar o efeito das substâncias tóxicas.
"De três em três horas analisamos as águas do Danúbio", disse Adrian Draghici. Para o director da Administração Nacional das Águas de Mehedinti, departamento do Sudoeste onde o rio entra na Roménia, os resíduos tóxicos podem ali chegar no sábado à tarde. "Estamos preparados para toda e qualquer eventualidade", disse, adiantando: "Se tivermos o menor sinal de que as águas do Danúbio estão poluídas à sua entrada na Roménia, aplicaremos imediatamente restrições totais no que se refere ao aprovisionamento de água pela população."
Bucareste insistia, ontem, junto de Budapeste, para que fornecesse as informações sobre o conteúdo em metais pesados da lama vermelha que, desde segunda-feira, vai destruindo todo o ecossistema por onde passa. "Na ausência dessas informações, apenas podemos fazer suposições", disse um responsável romeno, lamentando alguma ausência de cooperação por parte de Budapeste.
Ao fim do dia de ontem, um perito húngaro procurou minimizar os efeitos negativos da lama tóxica no Danúbio. "O efeito alcalino proveniente da poluição não terá provavelmente efeito no ecossistema do Danúbio a partir de Komaron", afirmou Emil Janak, director da empresa de gestão de águas. Komaron fica 80 km a Oeste de Budapeste e a 20 km do local onde as águas poluídas começaram ontem a chegar ao Danúbio.
Janak insiste: "O PH do Danúbio era de 8,4 às 16.00 TMG (17.00 de Lisboa) contra 9,1 duas horas antes", recordando que o PH normal é de 8. E sublinha: "Os peixes pescados são comestíveis e as águas são potáveis."
Mas Dobson, outro responsável húngaro, alertou que "para salvar o rio, o nível de PH deve permanecer abaixo dos 8 numa escala de 14" e lugares houve, sublinhou, onde o PH atingiu os "13,5".
Fonte: DN GLOBO/LISBOA
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